Com carisma e entrega, Cleiton Morais tem se consolidado como um dos nomes mais versáteis da teledramaturgia brasileira. Natural de Curitiba, o ator iniciou a carreira ainda jovem, conquistando o público com personagens de perfis distintos — do vilão Andréas em Malhação ao sensível Tobias em Êta Mundo Bom!. Agora, ele retornou à TV na continuação da trama, Êta Mundo Melhor!, dando vida novamente ao personagem que marcou sua trajetória e o coração dos fãs.
O reencontro com Tobias aconteceu em um momento especial da vida e da carreira do ator, que vive uma fase de amadurecimento artístico. A nova novela, ambientada anos após os eventos originais, apresenta um Tobias mais consciente, profundo e disposto a encarar seus sentimentos com coragem. “É como revisitar uma parte de mim com novas experiências e outro olhar sobre o mundo”, comenta o artista, que mergulhou em nuances sutis para reconstruir o personagem.
Além da televisão, Cleiton tem se dedicado à formação de novos talentos. À frente de um curso para atores, ele compartilha aprendizados acumulados ao longo dos anos de atuação e defende uma visão mais humana da profissão. Para ele, ser ator é um exercício de empatia e escuta. “O artista precisa entender o outro, sentir o outro — é daí que nasce a verdade da interpretação”, afirma.
Em paralelo, o ator se prepara para estrear seu primeiro longa-metragem totalmente em inglês, expandindo sua carreira para o cinema internacional. O projeto, segundo ele, o desafia a se reinventar: “É um novo terreno, uma entrega diferente. Falar e sentir em outro idioma muda tudo — é uma redescoberta como artista e como pessoa.”
Entre gravações, aulas e novos planos, Cleiton celebra um momento de equilíbrio e propósito. Para ele, a arte é um espelho das transformações sociais e pessoais que vivemos. “Quando o público se vê em um personagem, algo se transforma — e é isso que me move”, diz o ator, que sonha em continuar ampliando horizontes e levando sua arte a novos lugares. Confira a entrevista exclusiva para a coluna:
Você retornou ao papel de Tobias — personagem que já havia sido interpretado por você em “Êta Mundo Bom!” — agora na continuação “Êta Mundo Melhor!”. Como foi revisitar esse personagem em um novo momento da trama e quais aspectos você decidiu aprofundar ou mudar nessa nova versão?
Voltar a viver o Tobias foi uma experiência emocionante e, ao mesmo tempo, desafiadora. Ele é um personagem que ficou guardado no coração do público e no meu também. Dessa vez, quis revisitar o Tobias com um olhar mais maduro, mais consciente do próprio caminho. Trabalhei muito nas sutilezas — na forma como ele se posiciona, como expressa sentimentos, como lida com o amor e com o medo. É como reencontrar uma parte de si, mas com novas vivências, novas feridas e novas forças. Acho que o Tobias de agora traz uma serenidade e uma coragem que o de antes ainda estava descobrindo.
Tobias é alfaiate, figura que simboliza cuidado, transformação, identidade… Dentro da trama, como você enxerga o significado desse ofício para o que o personagem representa hoje, e como isso se conecta com os debates que a novela traz (amor, aceitação, pertencimento)?
O ofício do Tobias como alfaiate sempre foi muito simbólico pra mim. Ele trabalha com linhas, tecidos e medidas, mas, no fundo, o que ele faz é costurar histórias e identidades. É alguém que transforma, que dá forma ao que o outro deseja expressar. E isso conversa diretamente com os temas da novela — o amor, a aceitação, o pertencimento. O Tobias entende, através do trabalho, que cada um tem o direito de ser quem é, de se vestir do próprio jeito, de se mostrar ao mundo com verdade. Acho lindo como essa metáfora se encaixa no que a trama traz de mais humano e sensível.
A relação de Tobias com o personagem Lauro ganha novos desdobramentos nesta temporada. Quais foram os desafios de representar essa relação e o que você desejava que o público sentisse ou percebesse?
A relação entre o Tobias e o Lauro é um ponto muito especial dessa nova fase. Existe uma delicadeza aí — é um amor que nasceu na amizade, na admiração, e que agora encontra espaço para florescer de verdade. O desafio foi justamente equilibrar essa naturalidade com a profundidade do sentimento. Eu queria que o público sentisse verdade, que se visse ali, que percebesse o quanto é bonito quando o amor é livre de rótulos. É uma história sobre afeto, respeito e coragem — e espero que toque as pessoas nesse lugar mais íntimo e humano.
Fora da novela, você também ministra um curso para atores. O que motivou você a criar esse curso e, olhando para o seu momento atual com Tobias, qual dica você daria para quem está começando e deseja crescer profissionalmente?
O curso nasceu de uma vontade de compartilhar o que eu aprendi nesses anos de estrada — tanto os acertos quanto os tropeços. Eu sempre digo que ser ator é um exercício diário de humanidade, e quis criar um espaço onde as pessoas pudessem se desenvolver sem medo de errar, se conhecer e se expressar com verdade. Hoje, com o Tobias, percebo ainda mais como a escuta e a sensibilidade são essenciais. Então, pra quem está começando, eu diria: estude, observe o mundo, mas principalmente, viva. A técnica é importante, mas é a experiência que dá alma para interpretação.
Sabemos que você está abraçando um novo projeto: seu primeiro longa-metragem totalmente em inglês. Como essa transição para outro idioma e mídia impactou sua forma de preparar personagens e se colocar como ator?
Esse longa em inglês tem sido uma experiência incrível e desafiadora. Trabalhar em outro idioma exige uma entrega diferente — não é só decorar o texto, é pensar, respirar e sentir em outra língua. Isso me fez revisitar o meu processo de criação, buscar novas referências e ampliar meu olhar. É como tirar o chão e, ao mesmo tempo, descobrir que dá pra dançar de outro jeito. É um crescimento que me inspira e me faz querer explorar ainda mais esse lado internacional da carreira.
Em sua carreira você transitou por personagens de perfis variados — do vilão Andréas em “Malhação” aos tipos afetivos e protagonistas. Com Tobias, há algo novo que o tira da “zona de conforto”? Alguma cena ou situação especial que você recorda como marcante nessa novela ou em alguma outra?
Tobias, mesmo sendo um personagem que já conheço, me tirou da zona de conforto. Dessa vez, ele está mais vulnerável, mais disposto a se mostrar por inteiro, e isso exige coragem. Teve uma cena em especial — uma conversa entre ele e o Lauro — que me pegou forte. Era simples no texto, mas muito carregada de emoção, e eu saí dela com o coração acelerado. Acho que são esses momentos que fazem tudo valer a pena: quando você sente que o personagem vive de verdade através de você.
A novela “Êta Mundo Melhor!” conta com personagens já conhecidos e novos. Como você lida com a nostalgia que existe — tanto dos atores quanto do público — versus o desejo de trazer algo novo?
A nostalgia está muito presente, tanto entre nós, atores, quanto no público. É bonito ver o carinho que as pessoas têm por “Êta Mundo Melhor!”. Mas, ao mesmo tempo, a arte é viva — ela precisa respirar novos ares. Então, meu foco tem sido equilibrar esse respeito pelo passado com a vontade de trazer novas cores ao Tobias. É como reencontrar um amigo querido, mas perceber que ambos mudaram, cresceram, evoluíram. Esse frescor faz o reencontro ser ainda mais especial.
Em sua experiência na formação de atores, você percebe alguma mudança recente no mercado — seja no tipo de papel, no público, nas redes sociais ou na representatividade?
Sim, percebo mudanças claras. O mercado está mais aberto à diversidade e à verdade. As redes sociais encurtaram distâncias, deram voz a novos artistas e tornaram o público mais exigente e participativo. Hoje, fala-se mais sobre representatividade, inclusão e autenticidade — e isso é maravilhoso. A formação de um ator hoje precisa ir além da técnica: é sobre consciência, empatia e presença no mundo.
Fora do set, como você mantém seu preparo — físico, vocal, emocional — para dar conta de um personagem? Alguma rotina ou hábito que gostaria de compartilhar?
Eu tenho uma rotina bem disciplinada, que mistura o físico e o emocional. Treino boxe e yoga quase todos os dias — o primeiro me dá força e foco, o segundo, equilíbrio e serenidade. Também trabalho a voz diariamente, porque ela é uma ferramenta essencial. Mas o mais importante é o silêncio: tiro um tempo para meditar, me observar, entender como estou por dentro. A atuação nasce desse lugar interno, de verdade emocional.
Para finalizar: pensando em médio prazo (2 a 3 anos), qual meta você estabeleceu como ator — seja em teledramaturgia, cinema internacional ou no desenvolvimento do seu curso — e como você se visualiza?
Nos próximos anos, quero me dedicar mais ao cinema e também fortalecer o meu trabalho com formação de atores. Tenho vontade de levar o curso para mais estados e talvez até fora do país. Também sonho em fazer uma coprodução internacional — viver essa troca cultural como artista. Me vejo em movimento, aprendendo, ensinando e desafiando meus próprios limites. Acho que é isso que mantém viva a chama de quem ama o que faz.




