quarta-feira, julho 30, 2025
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Paulo Rosenbaum – Términos Inacabados – Episódio 38

Episódio 38 – Disritmicos

Afanes notou os sinais de Salo, e, à distância, percebeu que Ingmar estava agitado. Ele tinha aprendido com Ficci a desenvolver seus sentidos parafísicos. Uma intuição aguçada? Um radar hipersensível que aqueles que apresentam hipersensibilidade possuem como parte integrante e hiper desenvolvida do aparelho sensorial. 

Ele lembrava das lições perfeitamente: segundo o professor de medicina e neuropatologista, E. Maffei, mentor de Ficci,  aqueles sujeitos que correspondem aos 10% de hipersensiveis da humanidade detectam aspectos sutis do mundo. São os responsáveis pelo numero exponencial de efeitos colaterais e reações adversas da matéria médica, são os que estão fora do desvio padrão. São enfim aqueles que funcionam como para-raios do mundo sensorial. São também aqueles que pulam de médico em médico com sintomas vagos, quase inapreensíveis portanto de dificil diagnóstico e tratamento. São pessoas com disritmia cerebral e os equivalentes epilépticos, e eles representam uma porcentagem enorme e subestimada da humanidade. 

Ficci tinha esse dom, ou madição, a depender de como este “talento’ fosse usado ou atrofiado. Não se podia confundir com uma visão mistificadora da realidade. Apenas que esta diminuta fração dos homens capturam aspectos do mundo para além da sensibilidade média ordinária da maioria das pessoas. Por isso mesmo são consideradas estranhas, frequentemente discriminadas , e, na maioria das vezes, recebem o rótulo de excêntricas. 

Aquela visão de Salo agoniado e Ingmar histérico bastou para Afanes bater em retirada. Ele apanhou alguns exemplares de seu livro “Ficção Desolada” fechou a banca com displicência, e correu em direção ao seu carro, um velho e ingovernável Volvo, estacionado a duas quadras da orla.

Para onde?

Sua casa devia estar sendo vigiada e não tinha certeza se do paradeiro de Ficci ou Jerusa.. Guiou de forma imprudente e foi até o apartamento que até há pouco viveu com Ayla.

Ainda tinha conservado o cartão do predio. Todo ex faz isso, por precaução de ser golpeado pela esperança. A esperança do retorno.

Quando tocou a campainha esperou alguns minutos, Ayla apareceu como se estivesse sonambula (ela era de fato), e com a porta entreberta ficou esperando acordar.

Estava com os cabelos brilhantes, os olhos não mudaram de foco, ela sabia, em algum dia ele voltaria espontaneamente.

Por alguns segundos apenas se olharam. Com as palavras suspensas, sob a censura de um desejo maçico, irrevelado, descontinuo…

Continua

Fonte: gente.ig.com.br

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