terça-feira, julho 8, 2025
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Paulo Rosenbaum – Términos Inacabados Episódio 32

Episódio 32

O policial avançou e empurrou Afanes que caiu no solo, e caminhou resoluto, com uma respiração sulfúrica, para investigar o conteúdo das malas.

Ingmar agachou-se e arrebentou os fechos de um dos baús com um instrumento que parecia ser uma navalha acoplada a uma adaga. Ao abri-la com desdém absoluto, afastou a mala com um dos pés e passou a remexer nos livros que ainda estavam  relativamente organizados dentro da bagagem.

Afanes teve um instante de ausência.

Enfim, passado um minuto enfim rompeu com aquele estado de paralisia. Levantou e sacudiu a poeira, deu uma volta por cima do corpo do policial.

O filósofo já havia apresentado quadros semelhantes na infancia. Seus pais, um marinheiro português, e a mãe, que nascera em Angola, fizeram uma pergrinação médica em busca de diagnósticos. Nenhum razoável lhes foi apresentado. 

Isso até que Isaac Theshuv, seu pai, soube das habilidades clínicas do Dr Ernesto Ficci. Ainda criança Aristófanes foi tratado com as soluções e formulações magistrais pouco convencionais de Ficci, e os seus sintomas foram devidamente suprimidos durante décadas. Até aquela noite. 

Foi assim que Ficci e Afanes desenolveram uma relação de amizade com caractersíticas muito especiais.    

Apenas ainda um pouco inerte ainda observava a forma como o agente da Interpol ia arremessando os livros. Como se estivesse escavando um terreno pantanoso. O porta voz da lei inspecionava cada lombada com uma expressão de nojo, e, ao verificar que não era o objeto de sua busca, ele o descartava lançando o exemplar por cima do ombro.   

Afanes tentou interromper a investida do funcionário da Interpol e com uma velocidade notável foi manietado no braço. O sangue jorrou generoso e tingiu a roupa de ambos.  Ingmar tentou desferir vários golpes adicionais, mas ele já havia perdido a primazia da supresa.  

Sem pensar, num destes gestos automáticos, reativos, possivelmente irracional, Afanes  aplicou um golpeou único contra o pescoço do agente com uma fúria inaudita. O golpe foi tão forte e dado com tal dureza e precisão que ele temeu ter rompido alguma vértebra de Ingmar, que caiu desacordado no solo. 

‘Quebrei o pescoço do sujeito?”

Importante salientar que Afanes era um sujeito absolutamente devoto da não violência. Anotava cada detalhe dos manifestos pacifistas, leitor assíduo de todos os autores que negavam o suposto poder educativo das guerras. Seu impulso foi gutural, proveniente de um instinto ignoto misturado com um treino sistemático de krav-magá e bu-dô, e  de um dominio frio e absoluto das suas habilidades nas lutas marciais.       

Testemunhando o corpo estatelado do homem Afanes suspirou:

‘Nem sempre a legitima defesa pode ser aplicada com a regra da proporcionalidade.’ 

Aristófanes levou a mão à boca com um recondito arrependimento, e quando aproximou-se do policial entendeu o que havia feito.

E mais, entendeu por que havia feito o que fez. 

 Continua

Fonte: gente.ig.com.br

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