Revelação da nova geração da música brasileira, Malu Azevedo apresenta um trabalho que equilibra emoção e clareza em doses precisas.
O EP Vem comigo reúne quatro faixas que exploram afetos, sutilezas e paisagens sonoras que remetem à tradição da MPB, mas com a assinatura de quem olha para o presente com doçura e propósito. Uma dessas faixas, Marcas na areia, foi composta pelo pai dela, Flávio Afonso André, há 40 anos.
Marcas na Areia é uma das quatro faixas do EP Vem comigo, estreia da cantora lançada pelo selo Camarada. A faixa-título chega como um convite à viagem, um chamado à aventura, para percorrer as ilhas misteriosas e ao mesmo tempo pacíficas das canções Paciência e Tudo bem, até chegar à já mencionada Marcas na Areia, que completa o disco como uma joia encontrada no baú do tesouro.
Na juventude, o pai da artista sonhava em ser compositor, e, em parceria com um amigo, chegou a criar dezenas de músicas. Devido ao conservadorismo da época, no entanto, decidiu que, se não fizesse sucesso até os 18 anos, desistiria da carreira musical.
Formou-se em administração, depois foi para a publicidade (inclusive foi ele que criou o site do disco) e para a sociologia, mas nunca abandonou a música, que continuou embalando os dias da família. Quarenta anos depois, a canção encontraria seu destino na voz de Malu e pelas mãos competentes de uma banda repleta de músicos gabaritados.
Para Malu, a gravação foi um momento emocionante para a família: “Todo o processo de gravação, de levar meu pai até o estúdio e ver aquela música se transformando foi inesquecível”. Um encontro genuíno entre o presente, o passado e o futuro.
E, de fato, a canção soa tão bem nos dias de hoje quanto deve ter soado antigamente, se misturando às outras do EP, mais novas, como irmãs. Afinal, a boa música é atemporal, e uma boa intérprete é capaz de transcender o tempo.
Essa música, por sinal, sintetiza um pouco o espírito do primeiro EP de Malu: uma mescla de estilos musicais já consagrados e consolidados há décadas, mas que, pela interpretação singular da cantautora, ganham um novo frescor, se conectam com o espírito do presente e com uma nova geração de ouvintes.
E essa afirmação se revela por meio de números expressivos: o single De mansinho já teve mais de 220 mil plays. Prazer, eu sou…, em parceria com Zambonii, também passou a marca dos 200 mil. E o feat com Arthur Diniz em Passo pra cá, passo pra lá está prestes a bater 500 mil reproduções.
A singeleza da interpretação de Malu, que atualizam a MPB e a bossa nova com naturalidade, cai como uma luva para uma geração que está voltando a se interessar por esses estilos.
A suavidade e delicadeza do seu gestual, até mesmo uma certa timidez, fazem um bonito contraste com a voz potente da artista, fazendo lembrar, em forma e essência, artistas como Nara Leão. Só não se deixe enganar: tal como a “musa da bossa nova”, Malu é muito mais do que essas canções gostosas, e sabe entregar luta, intensidade e revolta também, quando necessário.
Ouça o EP: