Com sotaque inconfundível e personalidade marcante, Erick Jacquin é um dos nomes mais conhecidos da gastronomia no Brasil. Nascido em Saint-Amand-Montrond, na França, ele começou a cozinhar ainda jovem e nunca pensou em seguir outro caminho. Formado em culinária clássica francesa, o chef trabalhou em restaurantes renomados na Europa antes de cruzar o oceano e iniciar uma nova fase da carreira em solo brasileiro.
Jacquin desembarcou em São Paulo nos anos 1990, trazendo consigo não apenas a técnica refinada da cozinha francesa, mas também uma paixão genuína por ensinar e encantar através da comida. O que começou como um convite profissional acabou se tornando um laço afetivo profundo com o país. “Amo o Brasil”, costuma repetir o chef, que hoje é naturalizado e construiu aqui sua família e seu legado.
Ao longo das últimas três décadas, ele se tornou um dos grandes responsáveis por aproximar o público da alta gastronomia. Com seu temperamento exigente e humor afiado, conquistou as telas no programa MasterChef Brasil e no Pesadelo na Cozinha, revelando ao público o dia a dia intenso dos bastidores de um restaurante.
Fora da TV, Jacquin também é empresário e administra casas de sucesso, como o Président e o Ça-Va Bistro, ambos em São Paulo. Sua trajetória é marcada por disciplina, sensibilidade e uma visão de mundo que une tradição e modernidade, sempre com um toque pessoal e autêntico.
Mesmo com prêmios e reconhecimento, o chef mantém a mesma paixão do início. Para ele, cozinhar é mais que um ofício, é um propósito. Em conversa com o portal, Jacquin falou sobre sua vocação, o amor pelo Brasil e os desafios de comandar uma equipe de centenas de pessoas. Confira:
Quando você percebeu que a cozinha seria mais que um trabalho, mas uma vocação de vida?
“Sempre quis ser cozinheiro, nunca imaginei fazer outra coisa. Para mim, é muito mais uma vocação do que um trabalho. Hoje, meu hobby é cozinhar. Eu amo o que faço, faz parte da minha vida e nunca vou desistir disso.”
O que o motivou a deixar a França e construir uma carreira de tanto sucesso no Brasil?
“Eu vim para o Brasil porque fui convidado para trabalhar aqui. No começo foi mais por uma questão profissional e financeira, mas acabei me apaixonando pelo país. Casei, tive três filhos — um de 27 anos e os gêmeos de 7 — e hoje sou naturalizado brasileiro. Amo o Brasil.”
Muitos chefs se inspiram em tradições familiares. No seu caso, de onde veio a primeira inspiração para cozinhar?
“Minha mãe cozinhava muito bem. Sempre lembro do cheiro da comida dela. Foi uma mulher maravilhosa, muito inspirada. Mas eu sou o primeiro cozinheiro profissional da família. Quando comecei, nem sabia direito o que era ser chef, fiz porque queria ser cozinheiro de verdade.”
O que mais surpreende na evolução da gastronomia brasileira nos últimos anos?
“Estou há mais de 30 anos no Brasil e vi uma evolução enorme. Antes, os grandes chefs vinham de fora, agora temos muitos talentos brasileiros fazendo um trabalho incrível. Claro que tem coisa boa e coisa ruim, mas o avanço é indiscutível. O Alex Atala, por exemplo, fez um trabalho excepcional como embaixador da gastronomia brasileira no mundo.”
Como enxerga a valorização dos ingredientes e dos pequenos produtores locais no cenário atual?
“É muito importante valorizar o produtor, porque é ele que faz tudo acontecer. É quem planta, colhe, produz. Sem eles, a gente não tem nada. São fundamentais para a gastronomia.”
A culinária brasileira tem muitas influências. O que acredita que torna o sabor brasileiro único?
“O sabor da Amazônia é único no mundo. Tudo que vem de lá é inesquecível, extraordinário. E o Brasil tem essa força regional muito grande — ingredientes e sabores que não existem em nenhum outro lugar.”
Além do talento culinário, você também é empresário. Qual é o maior desafio de gerir um restaurante no Brasil hoje?
“Administrar é o mais difícil. Hoje eu tenho um sócio que cuida dessa parte e mesmo assim não é fácil. A administração é complicada no Brasil e no mundo também. Eu preciso obedecer à gestão — tudo precisa ser feito da forma certa, com segurança e responsabilidade. São quase 500 funcionários e três operações, então o desafio é enorme. Mas a gente gosta disso.”



