A megaoperação policial realizada nesta terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, provocou forte reação de artistas e jornalistas nas redes sociais. A ação, que deixou ao menos 132 mortos, foi considerada a mais letal da história do estado. Diversas personalidades criticaram a atuação das forças de segurança e questionaram a seletividade das operações nas favelas.
Durante o “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, a jornalista Míriam Leitão classificou a operação como “ mal planejada ” e “ desastrosa ”, destacando a alta letalidade e a falta de preparo do governo estadual.
“ As palavras são ‘tragédia’ e ‘desastrosa’. Essa operação foi desastrosa. O Rio ainda está contando os mortos. Então, é um desastre isso. Não teve planejamento. Se tivesse planejamento, não teria acontecido isso ”, afirmou.
Débora Bloch publicou um vídeo da deputada federal Benedita da Silva (PT) e fez duras críticas à abordagem policial. “ A maior chacina do estado do Rio de Janeiro não é política de segurança, é política de extermínio ”, escreveu a atriz, que interpretou Odete Roitman na nova versão de ‘Vale Tudo”.
Rachel Sheherazade também se manifestou e chamou a ação de “ desastrosa ” e “ sangrenta ”. “ A polícia entrou para cumprir 100 mandados de prisão, não para cometer 60 execuções ”, afirmou. A jornalista destacou que a violência atinge principalmente moradores periféricos. “ Essas pessoas não têm nome, não têm rosto, e principalmente, não têm dinheiro. São favelados, pretos, pardos, desafortunados. Morrendo muitos, ainda assim, não farão falta. Assim pensam alguns ”, criticou.
Ela ainda questionou a falta de investigações contra criminosos de elite. “ Os maiores e mais poderosos criminosos andam de jatinho, vivem em condomínios de mansões e apertam as mãos de gente graúda de Brasília. Por que o governo não faz operações nesses lugares? ”, indagou. Para Sheherazade, “ o policial é o bucha de canhão ” de um sistema que o oprime.
A influenciadora Agatha Sá, namorada do cantor Felipe Ret, relatou nos stories do Instagram que viveu momentos de pânico durante a operação. “ Tô morando há dois anos e meio no RJ e é a primeira vez que eu tenho a sensação de que o mundo tá acabando ”, afirmou. Segundo ela, a sensação de medo tomou conta até de regiões distantes dos complexos.
O cantor João Gomes também se pronunciou. Ele estava no Rio gravando um projeto musical quando a operação começou. “ Na saída da locação, eu vim com meu assessor. Bizarro, velho. Dizem que começaram a atirar do nada. Meu Deus do céu ”, relatou. O artista publicou um vídeo mostrando ruas vazias e escreveu: “ Que Deus tenha misericórdia. Que susto do caramba ”.
O escritor Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado, questionou a normalização da violência. “ Alguém consegue dormir tranquilo depois do banho de sangue promovido pelo governador do Rio de Janeiro? Até quando vamos normalizar essa carnificina? ”, publicou no Instagram.
A desembargadora e escritora Andrea Pachá também lamentou o número de mortos. “ Terça-feira. Dia. 64 mortos. Quem não se escandaliza com essa realidade nem gente é. O Rio de Janeiro não merece tanta dor ”, escreveu.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a ação tinha como objetivo cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho. Foram apreendidos 93 fuzis e presas 81 pessoas. Apesar disso, moradores denunciaram a presença de dezenas de corpos deixados nas ruas e praças das comunidades.
Na manhã desta quarta-feira (29), moradores da Penha levaram corpos até a Praça São Lucas, na Serra da Misericórdia, em protesto contra a violência. A Polícia Militar afirmou que haverá perícia para confirmar se as mortes têm ligação direta com a operação.
O governo do Rio ainda não divulgou o número final de vítimas. A ação, batizada de “ Operação Contenção ”, mobilizou 2,5 mil agentes e é considerada a mais letal da história fluminense.




