segunda-feira, junho 30, 2025
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Como os profissionais LGBTQIAPN+ estão transformando os eventos

Em um movimento que transcende o discurso e se enraíza na prática, a presença de profissionais LGBTQIAPN+ nos bastidores de grandes eventos tem promovido uma revolução silenciosa no Brasil.

Mais do que mudar a composição das equipes, essa inclusão está redefinindo a forma como o público e o mercado encaram a diversidade, transformando espaços que antes poderiam ser marcados por insegurança e resistência em ambientes de representatividade, escuta e respeito.

Não se trata apenas de visibilidade, mas de profissionalismo com identidade e entrega com liberdade, solidificando a ideia de que a diversidade não é uma tendência passageira, mas sim uma estrutura fundamental para o crescimento e a inovação.

Neste Mês da Diversidade, esta coluna conversou com a equipe da NS Operações, uma referência nacional no suporte técnico e produção de eventos, para entender como essas transformações se manifestam no dia a dia do setor. As experiências e perspectivas desses profissionais oferecem um panorama claro dos avanços, desafios e do impacto cultural que essa inclusão tem gerado.

Um setor em movimento

O mercado de eventos no Brasil é uma potência econômica, movimentando anualmente mais de R$ 300 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos(Abrape). Com um peso financeiro tão significativo, a urgência de garantir que seus bastidores reflitam a pluralidade dos palcos e das plateias é cada vez mais evidente.

Globalmente, a indústria de eventos também demonstra uma crescente conscientização sobre a importância da diversidade e inclusão. Relatórios recentes, como o Event Industry Diversity & Inclusion Report 2023 da EventMB, indicam que mais de 70% dos profissionais de eventos em nível internacional consideram a diversidade e inclusão como fatores cruciais para o sucesso de seus projetos.

Esse dado ressalta uma tendência global de valorização de equipes heterogêneas, que trazem diferentes perspectivas e soluções para os desafios do setor. Além disso, a busca por fornecedores e parceiros que demonstrem um compromisso genuíno com a diversidade tem se tornado um diferencial competitivo.

No cenário brasileiro, a inclusão de pessoas LGBTQIAPN+ tem sido construída passo a passo, e os dados corroboram essa mudança. O relatório Equidade BR 2024, da Human Rights Campaign, revelou um crescimento notável de 39% no número de empresas brasileiras consideradas “excelentes” para profissionais LGBTQIAPN+. Isso indica um progresso significativo nas políticas e práticas de diversidade corporativa.

No entanto, o caminho para a inclusão plena ainda é longo. O Censo de Inclusão Produtiva LGBTQIAPN+, realizado pelo Pacto Global da ONU no Brasil, aponta uma alta taxa de evasão de profissionais LGBTQIAPN+ devido a ambientes de trabalho hostis, especialmente em setores como produção, atendimento e eventos. Essa realidade sublinha a necessidade de ir além da retórica e implementar ações concretas que garantam a segurança e o bem-estar desses trabalhadores.

Quando a diversidade deixa de ser discurso e vira prática

A verdadeira inclusão se materializa nas interações diárias, na construção de ambientes mais acolhedores e na resposta firme contra qualquer manifestação de discriminação. A técnica Nathalia Silva Reimberg, da NS Operações, percebe essa mudança na prática: “Tranquilo, acho que as pessoas estão aceitando de uma forma mais leve.” Essa leveza reflete um ambiente onde o respeito se torna a norma, não a exceção.

Para Letícia Rodrigues Novaes, esse avanço é visível mesmo em eventos com públicos mais conservadores: “Tem sido um ambiente mais diverso, aberto e respeitoso, tanto da parte de profissionais como do público.” Essa observação é crucial, pois demonstra que a diversidade em cena pode, de fato, influenciar a percepção e o comportamento da plateia, desmistificando preconceitos e construindo pontes.

No entanto, esse acolhimento não é obra do acaso. Ele é construído dia a dia e, muitas vezes, defendido com firmeza. “Quando passamos por alguma forma de preconceito e descobrimos que não estamos sozinhos, temos o acolhimento da equipe, da Raquel e de todos da NS” , reforça Nathalia. Essa rede de apoio interna é vital para que os profissionais se sintam seguros e valorizados.

Preconceito ainda existe

Apesar do cenário promissor, o preconceito não desapareceu por completo. Ele pode se manifestar de forma sutil ou direta, exigindo preparo emocional e estrutural das equipes. Angélica Alves de Oliveira, da NS Operações, relembra um episódio marcante que ilustra essa realidade: “No STB, eu estava na função de backstage e precisei reter uma pulseira. Esse cliente tinha 2 metros de altura e quis tirar satisfação de forma onde insultava a minha sexualidade.”

Diante de situações como essa, o protocolo de resposta da equipe é fundamental. Raquel dos Santos, gestora da NS Operações, destaca a importância do acolhimento à vítima : “Nos preocupamos em levar a pessoa a um local longe do agressor, identificando a necessidade da vítima naquele momento, sempre prezando por não revitimizá-la.” Essa abordagem centrada na pessoa agredida é essencial para mitigar o impacto do preconceito e garantir que o profissional se sinta protegido.

Representatividade que inspira e transforma

A inclusão de pessoas LGBTQIAPN+ nas equipes de eventos não se limita ao ambiente de trabalho; ela gera efeitos visíveis no comportamento do público e na percepção geral da sociedade. Segundo Raquel dos Santos, essa presença “traduz representatividade e transmite segurança” , além de naturalizar vivências que antes eram vistas com estranhamento. A mera presença de profissionais diversos no dia a dia dos eventos ajuda a desconstruir estereótipos e a promover uma aceitação mais ampla.

Andreia Garcia Augusto complementa essa visão: “Quanto mais você convive, mais vê que não importa a opção sexual, e sim o caráter da pessoa.” Essa naturalização é um dos pilares para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Letícia Rodrigues Novaes reforça que a excelência profissional transcende identidades: “Há profissionais qualificados, independente de cor, gênero, religião, orientação sexual… que entregam excelência, independente do público.” Essa afirmação sublinha que o talento e a competência são os verdadeiros diferenciais, e não as características pessoais.

Internacionalmente, a diversidade nas equipes de eventos também tem sido associada a um aumento da criatividade e da capacidade de inovação. Um estudo da Deloitte sobre diversidade e inclusão, por exemplo, aponta que empresas com equipes mais diversas são 1,7 vezes mais propensas a serem líderes em inovação em seus mercados. Isso se traduz em eventos mais dinâmicos, inclusivos e relevantes para um público cada vez mais plural.

Além disso, a presença de equipes diversas pode melhorar a reputação da marca e atrair um público mais amplo e engajado, resultando em maior
sucesso comercial.

Fonte: gente.ig.com.br

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