terça-feira, setembro 23, 2025
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A Grande Viagem da Sua Vida e a canonização do teatro

Os tempos modernos nos aproximaram mais das telas – de todos os tipos – do que os palcos. Isto não é uma crítica, apenas uma constatação.

No entanto, encontramos na afirmação, um sintoma de tais tempos: o distanciamento. Entre nós e nosso próprio espírito.

Por mais informativo que possa ser – algo que se tornou, inclusive, questionável no século XXI –, a tela iluminada não é capaz de refletir a movimentação humana na mesma capacidade que a interação entre pessoas. Seja, um a um, ou coletivamente.

Entram, os palcos do teatro.

A mais antiga das formas de drama é uma ação colaborativa de arte performática que utiliza artistas, ao vivo, geralmente atores, para representar experiências de um evento real ou fictício, diante de uma plateia. Estes artistas podem comunicar essa experiência ao público por meio de combinações de gestos, fala, canto, música e dança.

Elementos da arte, como cenários e iluminação, são usados ​​para realçar a fisicalidade, a presença e o imediatismo da experiência humana.

Assim, na superfície, A Grande Viagem da Sua Vida do cineasta Kogonada ( Columbus; After Yang ), é um romance fantasioso clichê, sim, que checa todos os elementos esperados de uma história deste tipo. E, mesmo a moral da narrativa, que contorna sobre nossas dificuldades nas relações da vida adulta, naturalmente, vêm de traumas ou lacunas de nossa base, ou seja, nossa criação.

Se na aparência, Kogonada foi direto no mais rudimentar bê-a-bá das relações românticas, torna-se necessário, exaltar algo encontrado nas entrelinhas da ‘road trip’ fantástica da dupla Margot Robbie e Colin Farrell. No caso, a carga emocional das artes cênicas: capazes de ressignificar a nossa interpretação e visão sobre aquilo que vemos e vivemos, seja no passado ou tempo presente.

Passando longe de estragar a experiência do público que (ainda) pode assistir o longa-metragem – já nas salas de cinema do Brasil – podemos afirmar que o cineasta que nasceu em Seul, Coreia do Sul, praticou um ato de canonização ao teatro e as artes performáticas, em geral.

Para aqueles que não sabem do que se trata, A Grande Viagem da Sua Vida, é uma história sobre um casal de desconhecidos e a jornada inimaginável que os une. David (Colin Farrell) e Sarah (Margot Robbie), embarcam em uma aventura fantástica, na qual revivem momentos importantes do passado — e, possivelmente, alteram seu futuro.

Em tal jornada, observamos que Kogonada não se absteve de comentar o básico da psicanálise, focando constantemente na relação, entre pais e filhos. Contudo, é de valor a intenção do diretor em expressar a relevância da experiência cênica na busca de cicatrizar e redefinir nossas próprias vidas a partir da interlocução artística compartilhada.

É muito comum, lermos ou ouvirmos alguns relatos de atores e atrizes, enaltecendo o quanto a performance de uma peça, ou a gravação de um filme ou série para a TV, definitivamente, iluminando suas vidas pessoais, em algum aspecto. Trazendo alguma forma de clareza, anteriormente, desconhecida.

Portanto, apesar dos clichês mais repetidos de um típico filme de romance, é dever realçar que Kogonada, no meio de todo o pastiche sobre a coragem de se apaixonar por um outro alguém, conseguiu sinalizar que nos palcos do teatro, existe uma possibilidade de autocrítica e reflexão que podem afetar, profundamente e positivamente, aquela que promete ser a grande viagem da nossa vida.

Fonte: gente.ig.com.br

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