quarta-feira, junho 18, 2025
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São Paulo será palco do Festival Cumbia a Sol y Sombra

O Festival Cumbia a Sol y Sombra, que acontecerá no Carioca Club, em Pinheiros, no dia 22 de junho, a partir das 14 horas, reunirá uma série de grupos brasileiros de cumbia.

Entre eles Bazuros, La Guacamaya, o colombiano Majadero, que está radicado no Brasil, e a DJ Pensanuvem. Além deles, também teremos o grupo Chico Trujillo, que virá do Chile para ser o grande destaque da noite.

Entrevistamos Lucas Pereyra, do bar Sol y Sombra, diretor do festival, que nos conta como será o evento, tanto na parte brasileira como na internacional, e ainda fala sobre a atual cena da cumbia em São Paulo.

O gênero

A cumbia é um gênero que nasceu na Colômbia, mas se espalhou por toda a América Latina, chegando também ao Brasil. Para você, ela ganhou definitivamente o público brasileiro ou tem algo de modismo?

A presença da cumbia em São Paulo não é fruto de uma tendência passageira. Trata-se de uma redescoberta legítima de um ritmo que há décadas faz parte da paisagem sonora do Brasil, especialmente da região Norte.

Muito antes da internet ou da globalização musical, o Norte do país já sintonizava a cumbia diariamente, e não por acaso.

Nos anos 1950 e 60, rádios AM do Caribe, especialmente de Cuba, Colômbia e República Dominicana, eram facilmente captadas no Pará graças às chamadas “ondas tropicais”, que se propagam com força na região equatorial.

Numa época em que poucas emissoras brasileiras alcançavam o Norte, essas rádios estrangeiras passaram a influenciar de forma decisiva a música popular local.

Foi desse cruzamento que nasceram ritmos como a lambada, a guitarrada e, especialmente, a chamada cumbia amazônica. Nomes como Mestre Vieira, com músicas como “Cumbia da Saudade” e “Cumbia do Ceará”, evidenciam como a cumbia foi não apenas assimilada, mas reinventada no contexto amazônico.

Hoje, em São Paulo, esse som ressurge com potência, impulsionado, sobretudo, pela presença vibrante da população imigrante latino-americana.

Peruanos, colombianos, bolivianos, venezuelanos, equatorianos, argentinos e tantos outros grupos mantêm viva a tradição da cumbia como ritmo de celebração, pertencimento e resistência.

E São Paulo não está sozinha nesse movimento. Em Fortaleza, festas como La Pachanga ajudam a consolidar uma cena cumbiera no Nordeste.

Já em Florianópolis, a forte presença da comunidade argentina deu origem a bandas e bailes misturados à energia do sul brasileiro.

O que se observa, portanto, não é uma moda, mas a continuidade de um ciclo cultural profundo: da floresta ao concreto, das ondas de rádio ao streaming, da festa de aparelhagem ao baile latino-brasileiro. A cumbia volta a ocupar espaço porque nunca deixou de pertencer.

Como surgiu a ideia de fazer um festival de cumbia em São Paulo?

São Paulo, enquanto metrópole global e centro cultural de referência na América Latina, comporta e demanda festivais que reflitam sua diversidade social e musical.

A escolha pela cumbia como eixo central deste festival não se dá por exclusão de outros gêneros possíveis, como salsa, reggaeton ou manifestações brasileiras, mas sim pela identificação de uma cena em consolidação, que carece de maior visibilidade e articulação institucional.

Atualmente, a cidade conta com aproximadamente dez bandas de cumbia em atividade regular, além de dois blocos carnavalescos especializados exclusivamente nesse gênero, com presença recorrente em festas e eventos culturais.

O festival surge, portanto, como uma plataforma estruturante para fortalecer esse ecossistema musical já existente, ampliar seu alcance junto ao público e estimular políticas de circulação, intercâmbio e valorização da música latino-americana em contexto urbano.

Cumbia brasileira

O festival terá também vários grupos brasileiros de cumbia. O que você destacaria desses grupos?

Bazuros é uma banda formada no ano de 2020, no bairro do Bom Retiro, só com gente nascida em São Paulo. Tem como referência a cumbia feita no Peru e na Argentina, mas todos os integrantes vêm de um “berço” mais do punk, o que fica nítido na sonoridade da banda.

Isso ajuda a explicar a mistura que é o som do Bazuros, que transita em lugares bem diferentes da cidade, de festas de reggaeton como a Súbete, a shows com as pioneiras do punk paulistano, Mercenárias.

Por ser uma banda que sempre investiu numa proposta autoral, lançando já dois discos recentemente (o EP Bazuros e o Mucha Lucha, Poca Plata , o último pela Laja Records), o Bazuros representa muito do que é hoje a identidade única da cumbia de São Paulo, que se alimenta das outras cenas latino-americanas, mas que digere isso e transforma em algo autêntico e, principalmente, novo.

Como dizem, é uma banda que não tem público, tem torcida.

La Guacamaya é quem tem mostrado pra cidade o sabor de dançar ao som de uma banda de cumbia.

Não à toa é a primeira banda de cumbia de muita gente: ela tem uma “dançância” que fala por si só, que o público entende de primeira, e que coloca a cumbia na mesma prateleira das festas de forró ou samba-rock pra quem está se arrumando pra sair numa sexta-feira.

Tem uma mistura de sonoridades dentro da cumbia com muita qualidade de execução, uma performance de palco com energia e carisma, e tem grande responsabilidade por esse momento de efervescência da cumbia na cidade, com suas frequentes Quartas de Cumbia no Centro Cultural Áfrika, que trouxeram muita gente pra cena nos últimos anos.

Aleksey El Majadero promove um encontro musical entre a cumbia raiz de gaitas, acordeom e tambores, que nasceu à beira do rio Magdalena no litoral atlântico colombiano, e as sonoridades brasileiras nativas do nordeste brasileiro com zabumbas, pífanos e pandeiros.

É uma homenagem ao direito humano de migrar, pois do mesmo modo que a cumbia e o forró têm feito até hoje – eliminar as fronteiras – El Majadero é fruto desse fenômeno extraordinário de encontro de culturas, de saberes, de interesses.

Colômbia e Brasil estarão presentes no palco com um repertório de músicas autorais e releituras de belezas musicais dos universos da cumbia e do forró.

E temos também a DJ Pensanuvem, que é paulistana e discoteca desde 2009. Ela é a criadora, produtora e DJ residente de algumas festas em São Paulo. Atualmente responde pela Macumbia , que surgiu em 2011 e homenageia diversos estilos da música caribenha.

Qual a contribuição desses grupos para o gênero?
A curadoria das bandas convidadas para o festival partiu do reconhecimento da diversidade que compõe a cena paulistana de cumbia.

Cada grupo representa uma vertente distinta dentro do gênero, refletindo tanto as múltiplas influências que atravessam São Paulo, quanto os diferentes caminhos de apropriação e reinvenção da cumbia na cidade.

Uma das bandas traz uma formação mais orquestrada, com arranjos elaborados e uma estética musical próxima da cumbia colombiana tradicional.

Outra se inspira na cumbia villera, vertente popularizada na Argentina, marcada por seu caráter urbano e direto, de forte apelo popular.

Já Aleksey apresenta uma proposta centrada em instrumentos como gaitas, tambores e acordeom, dialogando com formas mais ancestrais e orgânicas do gênero. 

A reunião dessas três expressões, distintas em sonoridade, linguagem e referências, visa oferecer ao público um panorama da multiplicidade de estilos e “sotaques” da cumbia produzida em São Paulo.

Essa diversidade é, ao mesmo tempo, uma afirmação da vitalidade da cena local e um convite à escuta aberta e plural.

Chico Trujillo

A grande atração da noite será o grupo chileno Chico Trujillo. O que o público pode esperar da apresentação da banda?
A curadoria do festival incluiu Chico Trujillo, uma banda fundamental para a consolidação da cena da cumbia em São Paulo. Reconhecida como a maior orquestra de cumbia chilena, Chico Trujillo é uma presença emblemática que carrega consigo uma legião de fãs no Chile e além.

Considerada uma espécie de padrinho internacional da cumbia na cidade, a banda traz ao festival um show vibrante, repleto de músicas que pulsam e emocionam, capazes de envolver multidões por onde passam.

A participação de Chico Trujillo representa, assim, um marco histórico para o gênero na capital paulista.

O festival, ao reunir esse e outros nomes da cena local e regional, visa fortalecer a presença da cumbia em São Paulo, ampliando sua visibilidade e contribuindo para o reconhecimento e valorização de um ritmo que transcende fronteiras e gerações.

Esta coluna é um espaço destinado à cultura e músicas latinas. Mais informações sobre esses temas você encontra em www.ondalatina.com.br   e no Canal Onda Latina: https://www.youtube.com/@canalondalatina

Assista ao clipe de “Loca” com Chico Trujillo:

Fonte: gente.ig.com.br

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