Dar vida a Janis em “Meninas Malvadas – O Musical” tem sido, para a atriz Lara Suleiman, um processo intenso, desafiador e profundamente transformador.
Em entrevista ao iG Gente, ela contou que mergulha em uma personagem que exige não só força vocal e presença cênica, mas também empatia e compreensão emocional. “Manter a saúde física e vocal em dia tem sido o maior desafio da temporada”.
Lara também compartilha sua conexão pessoal com a música “I’d Rather Be Me”, que define como um verdadeiro hino da sua trajetória e um momento de libertação no palco.
Ao interpretar Janis, ela se vê inspirando outras garotas a serem fiéis a si mesmas, uma mensagem poderosa em tempos de comparações constantes nas redes sociais. Confira a entrevista completa:
Como foi o processo de preparação para interpretar a Janis? Houve algum desafio específico na construção da personagem?
“Interpretar a Janis foi um processo ao mesmo tempo divertido e desafiador. Embora tenhamos algumas características em comum, também existem muitas diferenças entre nós, e foi necessário deixar de lado nossa personalidade parecida para mergulhar nas particularidades da personagem. O maior desafio foi entender o pensamento da Janis, sem transferir as minhas próprias reações para ela. Além disso, a demanda vocal da personagem é bem intensa, algo que eu nunca tinha experienciado antes. Manter a saúde física e vocal em dia tem sido, sem dúvida, o maior desafio da temporada, principalmente para garantir que cada uma das 6 sessões semanais seja realizada com a qualidade que o público merece.”
Janis tem uma jornada de amadurecimento ao longo da peça. Como você trabalhou essa evolução na atuação?
“A Janis é uma adolescente ‘outsider’, que não se encaixa no grupo dos populares e se encontra entre os ‘loucos das artes’. Ela carrega um trauma de infância não superado: foi traída pela melhor amiga, Regina George. A maneira como ela lida com essa dor é através da vingança, uma reação imatura, mas que, na posição em que se encontra, pareceu ser a escolha mais correta, naquele momento. Ao longo da história, Janis amadurece e começa a buscar novos caminhos. Trabalhar todas essas camadas da personagem foi muito interessante, porque precisei deixar de lado meu julgamento pessoal sobre suas atitudes e tentar compreender a frustração de uma adolescente que está tentando se encontrar no mundo. Para mim, é quase uma realização pessoal ver a Janis, no final, tomar a decisão certa – é como se eu visse uma amiga muito próxima finalmente fazer a escolha que a levará para um lugar melhor.”
A música I’d Rather Be Me tem um significado especial para você. Como é interpretar essa canção no palco?
“Eu estava muito ansiosa para cantar I’d Rather Be Me no palco, porque essa música é quase um hino da minha própria trajetória. Quando canto, me sinto extremamente livre e verdadeira com meus sentimentos. A versão que o Victor Mühlethaler fez é incrível e muito fiel à original. A Janis canta essa música para expressar seus sentimentos e mostrar ao público quem ela realmente é. Mas, além disso, ela quer incentivar outras garotas a serem fiéis a si mesmas e à sua própria personalidade. Cantar essa música é uma experiência libertadora e inspiradora – é uma verdadeira honra poder vivenciar esse momento no palco.”
O musical tem um impacto forte na questão da aceitação e da autoexpressão. Como você vê a importância dessa mensagem para o público jovem?
“Acredito que essa seja uma das mensagens mais importantes da nossa história. Com a tecnologia de hoje, os jovens se comparam muito nas redes sociais e todos querem parecer ser o que não são. O texto da Tina Fey é genial, pois, com muita inteligência, usa o humor para destacar comportamentos preocupantes dessa época, em que buscamos encontrar nosso lugar no mundo, e é exatamente isso que tentamos transmitir: misturar comédia com questões sérias e relevantes, para que os adolescentes se vejam de maneira exagerada, enquanto os pais ganham uma perspectiva sobre o que realmente acontece nas escolas, ajudando-os a compreender melhor os desafios dos filhos. Infelizmente, o texto ainda é muito atual, e continuamos a ver todos esses tipos de personagens no ambiente escolar, mas o musical deixa claro que o melhor a se fazer é ser você mesmo e deixar que os outros tenham a mesma escolha, sem julgamento ou comparação.”
Você já viveu personagens icônicas, como Lydia Deetz em Beetlejuice e Éponine em Les Misérables. Qual foi o papel mais desafiador da sua carreira até agora?
“Acredito que a Janis esteja sendo a personagem mais desafiadora para mim até o momento, pela demanda que ela exige. Em Les Misérables eu cumpria a função de cover de Éponine, ou seja, só entrava quando a atriz principal não podia fazer a peça. Fiz muitas vezes a personagem, porque nossa temporada era longa e o show desgastante. Éponine foi muito desafiadora para mim, porque ela carrega uma carga emocional profunda, assim como a Lydia, com sua história trágica. Era um grande desafio mesclar a comédia com o drama, junto a músicas extremamente difíceis. Porém, em Beetlejuice, eu cumpria a função de alternante, sendo assim, entrava 1 ou 2 vezes por semana. Em Meninas Malvadas, eu faço a Janis 6 vezes por semana. É uma personagem, que assim como as outras, não sai do palco, tem uma trajetória pessoal cheia de camadas e uma demanda vocal intensa. Acredito que essas outras experiências, são as que me ajudam a cumprir meu papel hoje nesse musical tão divertido e intenso.”
Quais outros papéis ainda estão na sua lista de sonhos?
“Eu ainda tenho muita vontade de fazer Maureen em Rent e Jo March em Little Women. Dos musicais mais novos, adoraria participar de Hadestown e Death Becomes Her, adaptação de um filme que eu amo.”
Qual a principal diferença entre interpretar no palco e dar voz a personagens animados?
“No teatro musical, recebemos o roteiro com cerca de um mês e meio de antecedência da estreia, o que nos dá tempo para ensaiar, desenvolver as personagens, ajustar, errar, mudar e encontrar a melhor maneira de interpretá-las no palco. Mesmo após a estreia, quando já estamos diante do público, continuamos descobrindo novas camadas, intenções e sentimentos dos personagens, e conseguimos explorar tudo isso a cada apresentação. Já na dublagem, a dinâmica é bem diferente. Chegamos ao estúdio, geralmente, sem saber exatamente o que vamos gravar. Conhecemos as histórias e os personagens na hora, sem assistir à obra toda previamente. Temos um tempo limitado para gravar, dependendo da quantidade de falas, e o processo é mais rápido e dinâmico. Não há tanto tempo para refletir sobre as características da personagem, pois nossa atuação se baseia em cima de algo que já foi interpretado por outro ator ou atriz. Eu sou apaixonada por essas duas formas de artísticas, porém uma “chavinha” tem que virar no cérebro para cada uma delas, pois são bem distintas.”
Você tem planos de explorar novas áreas, como o cinema. Pode contar um pouco sobre esse projeto de roteiro e direção?
“Eu sou formada em Cinema pela FAAP. Desde a faculdade concílio os estudos com o trabalho, mas nunca tive tempo para escrever um roteiro. É um sonho meu poder escrever e dirigir um mistério policial “Who Dunnit?” em que eu misture minhas duas paixões: o cinema e o teatro. A ideia é que o assassinato da história aconteça em um teatro e o filme inteiro se passe nessa única locação. Sou apaixonada pela Agatha Christie, então sim, terá muitas referências A Ratoeira, com um pouco de terror, que é meu gênero favorito e não poderá faltar.”