Poucos políticos no mundo tiveram um percurso tão coerente como o que foi trilhado por José Pepe Mujica.
Sempre lutou por um mundo melhor e mais justo para todas e todos, além de defender de forma intransigente a ética como prática cotidiana, na política e nas relações humanas. Isso fez dele um dos melhores exemplos de como exercer a política neste século XXI e um dos principais líderes da esquerda do mundo.
Militância
O ex-presidente do Uruguai começou sua militância entre os anos 50 e 60 do século XX, tendo passado por diversas organizações políticas. Mas ganha destaque seu ingresso no Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, grupo guerrilheiro de esquerda com nítida inspiração na Revolução Cubana.
Perseguido e preso pelos militares que aterrorizaram o Uruguai, ficou quase treze anos seguidos na prisão. Quando saiu da cadeia entrou para a vida política institucional, sendo eleito deputado, senador e finalmente presidente do Uruguai, aos 75 anos de idade.
Presidência
Pepe Mujica ocupou durante cinco anos a presidência da república uruguaia, de 2010 a 2015, período marcante para seu povo, pois os setores progressistas tiveram inúmeras conquistas. Foi durante seu governo que ocorreram as legalizações do aborto, do casamento homoafetivo e da maconha.
Essa última fez do Uruguai um país modelo nessa área, pois o Estado controla sua venda, eliminando os traficantes, a violência e todas as outras ilegalidades inerentes ao tráfico.
Outro diferencial do presidente Mujica foi a postura simples e austera no exercício do cargo. Ele doava grande parte do salário para instituições, dispensava os carros luxuosos e ia para o trabalho em seu fusquinha azul claro, além de morar na própria casa, uma espécie de chácara, ao invés de no palácio governamental.
História
Pepe Mujica passou 12 anos preso, entre 1972 e 1985, durante o período da ditadura cívico-militar no Uruguai. Junto com Mujica, também foram presos seus companheiros de militância, Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro.
O dois últimos escreveram o livro Memórias do Calabouço , que serviu de base para o filme Uma noite de 12 anos, dirigido por Álvaro Brechner, que conta esse difícil período vivido pelos três militantes.
Nas telas, Mujica foi interpretado pelo ator Antonio de la Torre, Rosencof por Chino Darín e Fernández Huidobro por Alfonso Tort.
Esse filme mostra o quanto é nefasta uma ditadura para uma sociedade, como ela busca destruir física e psicologicamente aqueles que não aceitam ser subjugados.
A obra Uma noite de 12 anos também mostra que há uma arma fundamental de combate a essa destruição causada pelas ditaduras: a solidariedade. É ela que move a todos na luta e resistência a tudo que é causado por regimes de exceção e por injustiças, sejam sociais ou políticas.
No final da vida, Mujica tinha plena consciência de que iria morrer, pois lutava contra um câncer há alguns anos. Demonstrava isso com muita naturalidade e valentia. Em uma de suas última entrevistas no início do ano, sua despedida pública, disse:
Meu ciclo chegou ao fim. Sinceramente, estou morrendo, e o guerreiro tem direito a seu descanso.
Pepe, descanse em paz.
Esta coluna é um espaço destinado à cultura e músicas latinas. Mais informações sobre esses temas você encontra em www.ondalatina.com.br e no Canal Onda Latina: https://www.youtube.com/@canalondalatina
Assista o trailer do filme Uma noite de 12 anos: